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Estratégia & Negócios

O fim do milagre chinês e o crescimento das autocracias

07 Dezembro 2023

A economia chinesa debate-se com vários e intricados problemas: elevado desemprego, envelhecimento da população, deflação, crise imobiliária, etc. Este emaranhado parece sinalizar que a economia da China pode, finalmente, ter chegado ao fim de um percurso de 40 anos de crescimento elevado. Em julho, a segunda maior economia do mundo entrou oficialmente em deflação, com os preços no consumidor a caírem 0,3 %.


Paradoxalmente, embora os preços mais baixos possam parecer apelativos para o consumidor médio, os economistas consideram que a deflação tem um impacto negativo na economia – quando os preços caem durante um período prolongado, os consumidores reduzem as despesas e as empresas reduzem a produção - o que, por sua vez, pode resultar em despedimentos e crise. Após o levantamento das duras restrições associadas à política "zero COVID”, esperava-se uma franca recuperação da economia, mas vários bancos de investimento baixaram recentemente as perspetivas da China para 2023, pondo em causa a capacidade do governo chinês para atingir a meta de uma taxa de crescimento do PIB de 5 %. Quanto ao desemprego jovem, este é tão alto que as entidades deixaram de publicar os seus dados oficiais (o Serviço Nacional de Estatística (NBS) anunciou que as estatísticas atuais “precisam de ser melhoradas”).


A China enfrenta ainda uma crise imobiliária/financeira, desencadeada pelas dificuldades do Grupo Evergrande e de outros promotores imobiliários, na sequência de novos regulamentos chineses sobre os limites ao montante de dívida que estas empresas podem assumir. Estas e outras dificuldades económicas sentidas pela China levaram alguns observadores a recordar as complexidades enfrentadas pelo Japão, no início dos anos 90, quando o colapso de uma enorme bolha de ativos resultou num ciclo de décadas de deflação e crescimento estagnado (um fator adicional que ambas as economias partilham são as baixas taxas de natalidade).


Embora possa ser demasiado cedo para preconizar uma “japonização” da economia chinesa, já que a China parece possuir mais margem para continuar a crescer do que o Japão tinha no início dos anos 90, a verdade é que os dados económicos e abordagem política das autoridades (mais focada em firmar uma ideologia do que em liberalizar os mercados, como se viu com casos como o da Alibaba), marcam o fim do milagre chinês.



IMPACTO NA INDÚSTRIA PORTUGUESA DE MOLDES E PLÁSTICOS

A estagnação da economia chinesa tem implicações diretas na indústria portuguesa de moldes e plásticos. A China, sendo um dos maiores consumidores mundiais de plásticos, tem uma influência significativa nos preços e na procura global. Com a desaceleração da economia chinesa, a procura por plásticos e moldes pode diminuir, levando a uma queda nos preços e, consequentemente, a margens mais estreitas para os produtores portugueses.


Além disso, a China é também um dos maiores fornecedores de matérias-primas para a indústria de plásticos. Uma desaceleração na economia chinesa pode resultar em interrupções na cadeia de fornecimento, afetando a produção em Portugal.


Por outro lado, uma quebra da China e a escalada de confrontação com o ocidente, podem ser benéficas para algumas empresas nacionais, já que as cadeias de valor cada vez mais se afastam de fornecedores chineses.



PERSPETIVAS FUTURAS

A longo prazo, países como a Índia e o Vietname podem emergir como alternativas à China, em termos de atração de investimento. A configuração da competição global está a mudar, e as empresas portuguesas devem estar preparadas para se adaptar a esta nova realidade. A questão-chave é se o modelo autocrático chinês pode sobreviver a uma economia em desaceleração.


Na verdade, o mundo parece testemunhar uma reconfiguração significativa do equilíbrio de poder económico global, com as democracias liberais a encontrarem a oposição de uma liga de nações autocráticas. A China parece apostada em legitimar a ideia de um modelo alternativo à democracia, em que as nações criam modelos pragmáticos e autoritários (com alguma inveja de correntes norte-americanas, ligadas ao partido republicano, e com semelhanças ao que se passa hoje na Hungria e em parte na Polónia e Israel, onde o poder político parece controlar o judicial e os média). China, Rússia e países do Médio Oriente estão apostados na criação deste novo modelo (inspirando e legitimando movimentos autocráticos em África). Em última análise, o fim do milagre económico marca um período mais perigoso, dominado pela ideologia. Será sensato, a nível nacional, repensar algumas ligações e tipologias de Investimento Direto Estrangeiro, porque se aproximam anos em que a política se sobreporá à economia.




Texto: Vítor Ferreira (Diretor Executivo da Startup Leiria e docente do Politécnico de Leiria)